quinta-feira, 2 de novembro de 2023

  VOTO CONSCIENTE NÃO É VOTO PERDIDO          


          Caro leitor e eleitor, em 2024 você estará elegendo o próximo prefeito municipal. Vários nomes já estão sendo especulados. Você já pensou nas consequências que seu voto poderá representar para os demais habitantes do seu município? Pois é, se ele for para aquele candidato que tem compromisso com a população, tudo bem. Caso contrário, virá o arrependimento e uma espera de mais quatro anos para tentar corrigir a grande “besteira” que você fez.
          Pois bem, você se diz esperto, inteligente, mas acaba entrando na onda de amigos e julgando os políticos como se todos fossem iguais, pense e reflita sobre o seguinte pensamento de Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”.
          Nas próximas eleições em que haverá vários candidatos disputando o cargo de prefeito, gostaria que você fizesse uma reflexão, perguntando a si mesmo: qual dos pré-candidatos tem compromisso com o povo, e qual tem compromisso apenas consigo mesmo. Posso te dar uma ajuda....
          Quando iniciar oficialmente a campanha eleitoral, comece analisando primeiramente os seus planos de governo. Qual deles apresentará propostas realizáveis para o progresso e melhoria das condições de vida da população? Analise com bastante clareza aquele que realmente representará uma mudança e aquele que representará apenas uma continuidade. Se você acha que em seu município está tudo perfeito, não falta emprego, a educação é de qualidade, a saúde não precisa ser melhorada, as estradas estão bem conservadas, o futuro de seus filhos não será afetado, o município está crescendo e se desenvolvendo mais do que outros da sua região, então vote pela continuidade ou pela volta daqueles que já foram prefeitos. Caso contrário, vote pela mudança. Mas e daí, como saber quem realmente representará a mudança?
          Comece pesquisando quais são os possíveis patrocinadores da campanha de cada candidato? Quais são seus bens atuais e o que ele já possuía antes de ingressar na carreira política. Não basta parecer bonzinho e diferente, é preciso ter vontade política para fazer a transformação de ideias em realizações concretas para a população.
          Para finalizar, peço que você procure saber qual deles terá apoio de deputados influentes para garantir recursos para o município? Qual deles montará seu plano de governo discutindo propostas com os vários setores da sociedade? Pergunte também qual será o projeto mais viável para a valorização do funcionário público, para a melhoria do transporte, da segurança, da saúde, da educação, para a geração de empregos, para a habitação, para a recuperação das estradas, para o esporte, o lazer, a cultura, o turismo, o meio ambiente, para as mulheres e para os nossos jovens.
          Muito bem! Se, depois de tudo isso o candidato que você escolher também não possuir ficha suja e nem usar boatos e mentiras para difamar seus concorrentes, então posso lhe garantir que seu voto será consciente, pois você não é um analfabeto político.
                                                                                                                        Professor João Pereira Leite

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

 

Quem sou eu?

    Professor João Pereira Leite, nascido aos 23 dias do mês de junho de 1964, casado com a professora Naiane com quem tem uma filha, a Ellen Christine.
    Nasceu no Bairro Rio dos Bagres, na cabeceira da represa da Cachoeira do França, em Ibiúna. É filho de Américo Pereira Leite e Eva Maria Leite.
    Na sua adolescência foi engraxate, trabalhou na roça e foi ajudante de pedreiro. Mais tarde, tornou-se bastante conhecido como JOÃO DA MAGUINHA, quando trabalhou no comércio local, em uma loja chamada Maguinha Distribuidora de Materiais de Limpeza, na década de 1980. Também trabalhou como vendedor nas Lojas Carambella, em Ibiúna, até iniciar-se na carreira do Magistério.
    É formado em Letras pela Universidade de Sorocaba (Uniso) e em Pedagogia pela Faculdade de Registro (Selisul). Possui Pós-Graduação em Língua Portuguesa, pela UNICAMP, por meio um Programa da Rede Estadual de Ensino chamado REDEFOR, Pós-Graduação em Gestão Escolar pela Universidade Anhembi Morumbi, oferecido a Diretores de Escola da Rede Municipal de Ensino de São Roque pela Fundação Lemann e, também possui Pós-Graduação em Direito Educacional pela Faculdade Itaquá-Facita.
    Iniciou sua carreira no Magistério na Rede Estadual de Ensino em 1990. Atualmente leciona para a Educação de Jovens e Adultos-EJA, na E.E. Profª Laurinda Vieira Pinto, no período noturno e, durante o dia é Diretor de Escola na Rede Municipal de São Roque na EMEIF Prof. Antônio Cavaglieri, no Bairro do Pavão.
    Na Rede Estadual de Ensino, além de professor atuou como Professor Coordenador de Área de Língua Portuguesa, Professor Coordenador do CIC (Centro de Informação e Criação) e Professor Coordenador do Período Noturno.
    Na Prefeitura de São Roque trabalha como Diretor de Escola concursado desde 2001, mas também já ocupou o cargo de Supervisor de Ensino, no Departamento de Educação, atuando no período de ampliação das escolas Período Integral naquele município.
  Na Rede Particular de Ensino trabalhou no Colégio CK, em Ibiúna, como Professor de Língua Portuguesa, Coordenador Pedagógico e Diretor de Escola, deixando o emprego para assumir o Concurso Público na Prefeitura de São Roque.
    Atuou também em cargo comissionado na função de Secretário Municipal de Educação na cidade de Ibiúna, na gestão do Prefeito Coronel Darcy Pereira Leite/Koiti Muramatsu.
    Nesse período como Secretário, reestruturou toda a Educação Municipal de Ibiúna. Deu o pontapé inicial  para a discussão e aprovação do atual Plano de Carreira do Magistério Municipal; criou o PAR, um Programa do Governo Federal que  propiciou nessa época a participação do município em todos os convênios do MEC(Ministério de Educação e Cultura) que até então não existia; ampliou o PROINFO (Programa Nacional de Tecnologia Educacional) que culminou com a chegada de mais de 500 computadores para a Rede Municipal de Educação, antes só havia 05 (cinco), na escola Seme Issa; concluiu e realizou a certificação dos Cursos de Graduação e Pós-graduação de centenas de professores da Rede Municipal, ministrado pela Fundação Antares (FAESP), que estava parado havia vários anos; criou os cargos de Diretor de Escola Efetivo, que era o sonho de muitos educadores, pois até então, atuavam apenas aqueles nomeados pelo prefeito; criou os cargos de Coordenador Pedagógico que não havia na Rede Municipal; criou os cargos por seguimentos na Secretaria de Educação, passando a ter um responsável pelas Creches, Educação Infantil, Educação Inclusiva e Ensino Fundamental. Antes havia apenas dois cargos de assessores na secretaria; criou por meio de Resolução os Conselhos de Escolas, a alteração dos ciclos educacionais, a implantação oficial do Ensino Fundamental de 09 anos, que até então era de 08 anos; elaborou Projetos de Recuperação e Reforço Escolar. Elaborou, juntamente com a sua equipe um Projeto de Lei que obrigava o pagamento de um Piso diferenciado para Auxiliares de Educação Infantil (ADI), mas que infelizmente foi retirado da Câmara Municipal antes da discussão e assinou várias parecerias com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,  entre tantas outras benfeitorias que ficarão marcados na história de Ibiúna.
    Criou o Projeto “Gente de Quem” em que por meio de pesquisa de professores e alunos da Rede Municipal junto a famílias tradicionais, contava-se a história das família ibiunenses, com apresentação para toda população, na Praça da Matriz, no dia do Aniversário do Município.
    Na política partidária, participou, como candidato a vereador em várias oportunidades, sendo que em 2012, pelo PV (Partido Verde) alcançou a sua maior votação com 597 votos, ficando como primeiro suplente. Em 2020 apoiou a candidatura da sua esposa, a Professora Naiane pelo partido PP (Progressistas).
    Após receber a notícia de que estará aposentado como Professor da Rede Estadual de Ensino a partir de 2024 e, possivelmente do cargo de Diretor de Escola na Rede Municipal de Ensino de São Roque, pretende participar das Eleições Municipais de 2024, embora não esteja filiado em nenhum partido, no momento.
João Pereira Leite

sábado, 8 de agosto de 2020

 “Candidato Mula” 

Segundo o mundoeducação.bol.uol.com.br/biologiamula é o nome dado ao filhote fêmea do cruzamento entre o jumento, também chamado de asno ou jegue (Equus asinus), com a égua, ou cavalo fêmea (Equus caballus). Quando se trata de um macho resultante desse cruzamento, falamos em burro.

    Como são animais resultantes do cruzamento entre espécies com número de cromossomos diferentes, apresentando número ímpar de cromossomos, burros e mulas tendem a nascer estéreis.

    Mas o que o termo mula tem a ver com candidatos que disputam as eleições municipais, estaduais e federais? Vou tentar explicar:

    No final da década de noventa e no início dos anos dois mil, o Sr. Milton Giancoli, pertencente a uma das famílias tradicionais de Ibiúna e que chegou a ser Secretário Municipal em mais de uma gestão, popularizou a palavra "mula" em um jornal que ele mesmo editava e publicava, não ao se referir a um animal quadrúpede, mas sim, ao candidato a vereador que disputava uma eleição simplesmente para somar votos ao chamado quociente eleitoral do partido, mas não ganhava a eleição. Este era apenas um “candidato mula” que carregava votos para eleger aqueles que eram mais bem votados dentro do grupo que disputava uma vaga ao Legislativo Municipal.

    Esse termo “candidato mula” vai entrar novamente em moda nas próximas eleições. E vai até extrapolar. Agora, além do “candidato mula” vai haver também o “partido mula”. O partido que vai apenas apoiar um candidato a prefeito, e não vai receber os votos de legenda.

    E para aqueles que não conseguirem se eleger, me contem depois como foi participar como “candidato mula”.

Professor João Pereira Leite

 


domingo, 19 de julho de 2020


Escola melhor, pós-covid

            Estamos no meio do furacão, ainda com escolas fechadas e com a incerteza do que pode acontecer quando reabrirem, mas mesmo assim educadores dizem que é possível já pensar em alguns bons aprendizados que a pandemia deve deixar para a educação. Eles visualizam uma escola melhor pós-covid no Brasil, partindo do princípio de que podemos reconstruir um mundo melhor depois das crises. Pode ser difícil, mas convém acreditar.
            Um dos mais óbvios legados do coronavírus é a tecnologia. Professores costumavam ter medo dela. E medo, principalmente, de que ela os substituísse. Mas, ao contrário, a pandemia tem mostrado o grande valor de um professor e como é difícil ensinar. Mas também que o computador, o celular e a internet podem ser aliados e ajudar na aprendizagem e no aumento do interesse dos alunos.
            Mais importante que a tecnologia, no entanto, é a mudança que tem acontecido na relação entre famílias e escolas. Em nota técnica sobre o assunto, o Todos pela Educação chama o movimento de “aproximação forçada”, mas que pode “dar início a uma cultura de diálogo e parceria contínua”.
            Pesquisas no mundo todo já mostraram melhora na aprendizagem das crianças quando os pais se interessam pelos seus estudos, perguntam sobre as lições, frequentam a escola. Professores também constantemente reclamam da distância dos pais, que passaram a delegar toda a educação à escola.
            Com a pandemia, mesmo as famílias mais desinteressadas ou mais ocupadas estão tendo de compartilhar o momento de ensino remoto em casa. Mães ouvem vez ou outra a aula dada pela professora pelo Zoom, ajudam em atividades mais complicadas, pais folheiam os materiais usados pelos filhos. Veem – ou se lembram – como é complicado ensinar e aprender.
            Mas essa relação nova surgiu no susto. Cabe agora às escolas continuarem a estimular os responsáveis a frequentar os compromissos escolares e, principalmente, a manter alto interesse e participação na vida escolar dos estudantes, diz o Todos pela Educação.
            Muito se fala também na valorização das chamadas habilidades socioemocionais. Elas fazem parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é a diretriz sobre o que deve ser aprendido nas escolas, mas raramente consegue competir com o conteúdo de Português ou Matemática. Não há tempo ou mesmo técnica para ensinar os estudantes a terem empatia, foco, resiliência, tolerância ao estresse. Mas, depois de meses enfrentando uma pandemia, com desemprego dos pais e adoecimento de pessoas queridas, adolescentes e crianças voltarão com necessidades além das matérias perdidas.
            O Instituto Ayrton Senna, que estuda as habilidades socioemocionais, divulgou um guia orientando os professores sobre o assunto no retorno às aulas presenciais. Diz o documento que para o restabelecimento da sensação de segurança é importante, por exemplo, que seja aberto espaço para discussão sobre a veracidade de informações sobre a pandemia. “Se esses assuntos forem evitados, pode-se acabar gerando um crescimento da sensação de insegurança.”
            O acolhimento dos alunos deverá ser feito também de maneira interdisciplinar. Psicólogos e assistentes sociais precisam trabalhar com professores na volta às escolas – e aí está mais uma experiência que deveria ser continuada após a pandemia. Hoje é raro encontrar uma escola com psicólogos, apesar de lei que exige o profissional nas redes públicas.
            Para algo realmente mudar para melhor depois da grande desgraça que o País tem vivido, escolas particulares públicas não podem pensar apenas em medidas emergenciais. Há lições que o coronavírus traz em todas as áreas, e a educação – logo ela – não pode deixar de aprendê-las.


Fonte: O Estado de S. Paulo, 19 Julho de 2020 – Metrópole – A17.
Colunista: RENATA CARFADO – É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADO E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA) - ESCREVE QUINZENALMENTE
Acesso em 19/07/2020 – 14h15min.
           

segunda-feira, 15 de julho de 2019


O drama do analfabetismo

Enquanto o governo se preocupa com “marxismo cultural”, a batalha real contra o analfabetismo vem sendo perdida.


    Enquanto o governo federal se preocupa em combater o chamado “marxismo cultural” nas escolas e universidades do País – “ameaça” que só existe nas cabeças mais aluadas do bolsonarismo –, a batalha real contra o analfabetismo vem sendo fragorosamente perdida. Segundo os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre educação divulgados pelo IBGE, há 11,3 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais que não conseguem ler ou escrever um texto simples.
    O resultado de 2018 aponta uma pequeníssima queda em relação ao ano anterior – 6,8% no ano passado, ante 6,9% de analfabetos em 2017. É superior à meta de 6,5% estipulada para quatro anos atrás pelo Plano Nacional de Educação. Nesse ritmo de queda no número de analfabetos, o Brasil não conseguirá atingir o objetivo de erradicar o analfabetismo em 2024. Uma tragédia social e econômica.
    A Pnad Contínua mostra que o desafio ainda é muito maior na Região Nordeste, onde há 13,9% de analfabetos, número quatro vezes maior do que o da Região Sudeste, com 3,5%. Na Região Norte, o porcentual de analfabetos é de 8% e nas Regiões Centro-Oeste e Sul, 5,4% e 3,6%, respectivamente.
    A chaga do analfabetismo também expõe o abismo que há entre brancos e negros no
País, passado mais de século da abolição da escravidão. Entre a população negra, há mais do que o dobro de analfabetos em relação à população branca: 9,1% e 3,9%, respectivamente. Entre os mais velhos, acima dos 60 anos, o analfabetismo alcança 10,3% dos brancos e 27,5% dos pretos ou pardos.
    A taxa de analfabetismo no País está relacionada à idade. Quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos. De acordo com a Pnad Contínua, há 6 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais, taxa de analfabetismo de 18,6% para este grupo etário.
    Um dado positivo revelado pela Pnad Contínua é o aumento, ainda que tênue, do porcentual de crianças entre 6 e 14 anos na escola: de 99,2% em 2016 para 99,3% em 2018. Ou seja, o Brasil atingiu a meta de universalização do ensino básico e a tendência é que a taxa de analfabetismo continue a cair. A grande questão é o ritmo dessa queda e os danos sociais e econômicos que o analfabetismo continuará produzindo até que seja erradicado. “A taxa de analfabetismo vem caindo, a situação melhorou para o Brasil todo. O que se observa é uma questão de idade importante, um componente demográfico. À medida que os mais velhos falecem, a tendência é o porcentual cair ainda mais”, disse Marina Águas, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento (Coren) do IBGE.
    Embora quase a totalidade das crianças e adolescentes de 6 a 14 anos esteja estudando, ainda há um importante descompasso entre idade e etapa de ensino adequada. Entre as crianças de 6 a 10 anos, 96,1% estão na série indicada para a faixa etária. A discrepância é maior entre os jovens de 11 a 14 anos: 86,7% estão na etapa indicada para a faixa etária. São resultados melhores dos que os observados na Pnad Contínua de 2016, mas deixam claro que ainda se trata de um problema a ser resolvido.
   Outro aspecto positivo a ser destacado é o aumento do acesso à educação básica, um imperativo constitucional. A taxa cresceu de 45% em 2016 para 47,4% da população de 25 anos ou mais em 2018.
    Os dados da Pnad Contínua sobre educação permitem concluir que o País avançou em dois anos, mas muito pouco para um setor determinante para o sucesso de um projeto de crescimento do País. Ainda há muito a ser feito na educação e o governo do presidente Jair Bolsonaro fará melhor ao Brasil se concentrar energias nos problemas reais que reclamam solução, como analfabetismo, desvalorização de professores, abandono e evasão escolar, não em estultices como a declarada guerra ao “marxismo cultural”, seja lá o que isso signifique.
Jair Bolsonaro será o presidente do Brasil no bicentenário da Independência, em 2022. Se quiser, pode corrigir rumos e contribuir para que mais brasileiros sejam independentes por meio da educação.
O Estado de S. Paulo. 13 Julho de 2019.  Acesso em 15/07/2019., 17h50min.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Os 9 convidados do Natal

            A maior festa do Ocidente é o Natal. Existem pessoas que, como eu, adoram o período, mesmo não sendo religiosas. Há os que ficam deprimidos e apresentam até raiva diante da data. Provavelmente, são os que mais dão importância à noite de hoje, pois sua ira demonstra uma falta, uma resistência, algo que move o mundo interior. Cheguei a encontrar uma pessoa que, toda noite do dia 24 de dezembro, ia até o túmulo da mãe e ficava sobre ele. Disse-lhe: das pessoas que conheço, você é a que mais valoriza o Natal. Nunca conheci alguém indiferente. A data de hoje é como o anúncio dos Borg em Star Trek: resistir é inútil...
            O Natal envolve nove personagens. Cada uma tem um significado nos presépios de nossos lares. A primeira é o aniversariante, causa da festa. É um menino e, como toda criança, tem o dever de zerar o mau humor e restaurar a esperança. Sim, você, adulto como eu, tem o direito ao azedume e ao descrédito. Nossa biografia e nossos erros possibilitam a consciência de que não valemos a pena mesmo. Crianças surgem como tábula rasa, um novo caderno aguardando a escrita. O menino da manjedoura, como toda criança, proclama que o mundo recomeça com ele. 
            A segunda personagem é Maria, mãe e mulher. Jovem adolescente ainda, vive o incômodo de uma gestação, pouco dinheiro, acomodação improvisada e ter de cumprir uma ordem governamental sobre um recenseamento. Para teólogos, crendo ela gerou quem a criou. Para outros, é o mais próximo que teremos de amor incondicional: a mãe que aposta em carregar um ser por nove meses e faz o milagre do nascimento. A esperança é o menino e o amor extraordinário é a mulher-mãe. Todos fomos bebês; algumas foram mães, qualquer um pode voltar a ter esperança. 
            A terceira personagem é José, o carpinteiro. Sente-se protetor de um mistério que o transcende e o excede. Aceita a gravidez sem causa como aceitará o exílio com a pequena e sagrada família. Traz o trabalho, a proteção, a missão de apoio e a vocação de entrega. É homem capaz de ouvir a intuição de sonhos. Aceita ser testemunha e controlar a vaidade. Como cantava Georges Moustaki, foi você, José, quem escolheu Maria e seu filho de tão estranhas ideias. 
            A quarta personagem é, na realidade, um grupo de gente simples: pastores. Interrompem o trabalho e fazem uma pausa teológica. São os primeiros a saber do primeiro Natal. São pobres e testemunhas. Receberam uma mensagem da quinta personagem: o grupo de anjos que proclama glória a Deus nas alturas e paz na Terra para os homens de boa vontade. A Bíblia desconfia um pouco de agricultores e exalta pastores, desde Caim e Abel. No topo dos seres criados e na base da pirâmide social há alegria pelo ocorrido. Do mais alto ao mais baixo o mistério do Deus-menino exalta a noite fria e significativa. A manjedoura celebra a vida e integra seres humanos e mensageiros divinos.
            A sexta personagem simboliza a humanidade. São sábios, magos, posteriormente tornados três reis. Na tradição medieval, um é branco, outro, negro e o terceiro parece mais oriental. Grão Vasco, no começo do século 16, pôs um índio no lugar desse último. Traduzem a boa-nova para todos, a novidade de um Salvador. Carregam três presentes simbólicos para o menino e para nós: ouro porque ele e nós podemos ser reis; mirra porque todos morreremos e este é o produto para acompanhar o defunto. Por fim, trazem incenso porque o menino é Deus. Baltazar, Melquior e Gaspar são nossos procuradores. A epifania é humana e divina. 
            A sétima personagem é outro grupo. Nada falam, apenas aquecem o infante. São vacas e burros próximos ao berço improvisado. Também há ovelhas trazidas pelo grupo da quarta personagem. Depois despontam camelos, dromedários, associados à viagem dos sábios reis. São convidados úteis e silenciosos. Integram a natureza e os animais à noite que Jesus escolheu. Foram criados antes dos homens e existem há mais tempo. Toda vida celebra a Vida. 
            A oitava personagem é má. Representa o poder ressentido, o medo corrupto e invejoso. Trata-se de Herodes que não se aproxima da cena, mas ronda o presépio. O puro amor de Jesus, Maria e José, a simplicidade dos pastores, a humildade angelical, a busca de sabedoria dos magos e a ação generosa dos animais devem encontrar o plano político e a violência. Como hoje e há 2017 anos, o Estado corrupto mata crianças e só se preocupa consigo. Os primeiros a morrerem por Jesus serão os santos inocentes assassinados pelo medo do tirano.
            A nona personagem é das mais interessantes. Quando você olha um quadro como a Adoração dos Magos, de Leonardo da Vinci ou quando visita o extraordinário presépio napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo, ela está lá, a personagem não retratada: nós. Somos a testemunha invisível da cena descrita em Lucas. Somos a plateia-alvo da cena e da missão do menino. Somos a nona personagem que pode aprender com José, com Maria ou até com Herodes. Podemos ter a humildade do menino sobre a palha ou a maldade dos soldados executando inocentes. Somos parte do drama e temos escolha sempre.
            Hoje terei o primeiro Natal sem minha mãe. Foi ela que me ensinou o amor à festa. Passo adiante o que recebi com tanta generosidade. Boas festas para todos os filhos e para todas as mães e que, ao menos nesta noite feliz, haja paz na Terra. Como eu disse no ano passado, ninguém é obrigado a ser feliz hoje. Igualmente, ninguém é obrigado a ficar deprimido. Que as crianças nos eduquem e nos permitam ter esperança. Feliz Natal!
Leandro Karnal - Caderno 2 - P. C7 - O Estado de São Paulo - domingo, 24 de dezembro de 2017.

domingo, 26 de novembro de 2017

OS DESAFIOS E A IMPORTÂNCIA DA EJA

            Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2007, uma população de cerca de 10,9 milhões de pessoas com 15 anos ou mais havia frequentado algum curso de EJA.
            Dados de FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – relativos ao Censo Escolar de 2011 revelaram que aproximadamente 3,4 milhões de pessoas frequentavam a EJA.
            Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios (Pnad/IBGE 2009), no Brasil, há uma população de 57,7 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam a escola e não completaram os estudos do Ensino Fundamental.
            Um dos grandes desafios da EJA tem sido o de manter o aluno na escola, pois os dados do IBGE também revelam que, de cerca de 8 milhões de pessoas que passaram pela EJA antes de 2007, 42,7% não concluíram o curso, sendo que o principal motivo apontado para o abandono foi a incompatibilidade de horário das aulas com o do trabalho ou com o de procurar trabalho (27,9%), seguido pela falta de interesse em fazer o curso (15,6%).
            Às vezes, a falta de um corpo docente habilitado para um desempenho adequado a essa modalidade de ensino é outro grande problema enfrentado pela EJA. As especificidades dessa modalidade de ensino não são tratadas nos cursos de qualificação de professores, de modo que o professorado dispõe de reduzidas oportunidades de aperfeiçoamento e atualização nos fundamentos teóricos-metodológicos da EJA. Além disso, existe um elevado contingente de docentes sem formação específica, professores leigos, que atuam tanto nas redes públicas de ensino, como em estruturas em que acontece a Educação de Jovens e adultos – EJA.
            Esses desafios precisam ser encarados por todos os envolvidos com a educação, pois conforme destacou a Declaração de Hamburgo aprovada na V Conferência Internacional sobre Educação de Jovens e adultos (CONFINTEA V), no item 4:
                                    É de fundamental importância a contribuição da educação de adultos e da                                                                           educação continuada para a criação de uma sociedade tolerante e instruída,                                                                         para o desenvolvimento socioeconômico, para a    erradicação do analfabetismo,                                                                para a diminuição da  pobreza e para a  preservação do   meio ambiente.
            Assim, a Educação de Jovens e Adultos desempenha um papel essencial e específico, à medida que possibilita às mulheres e aos homens, jovens e adultos, adaptarem-se de modo eficaz a um mundo em constante mutação, oferecendo um ensino que leva em conta seus direitos e suas responsabilidades, bem como os direitos e as responsabilidades da comunidade.

Fonte: Guia de orientações didáticas – Coleção: Caminhar e Transformar – Língua Portuguesa – pp. 6 e 7. – Ed. FTD – Priscila Ramos de Azevedo Ferreira.