domingo, 24 de dezembro de 2017

Os 9 convidados do Natal

            A maior festa do Ocidente é o Natal. Existem pessoas que, como eu, adoram o período, mesmo não sendo religiosas. Há os que ficam deprimidos e apresentam até raiva diante da data. Provavelmente, são os que mais dão importância à noite de hoje, pois sua ira demonstra uma falta, uma resistência, algo que move o mundo interior. Cheguei a encontrar uma pessoa que, toda noite do dia 24 de dezembro, ia até o túmulo da mãe e ficava sobre ele. Disse-lhe: das pessoas que conheço, você é a que mais valoriza o Natal. Nunca conheci alguém indiferente. A data de hoje é como o anúncio dos Borg em Star Trek: resistir é inútil...
            O Natal envolve nove personagens. Cada uma tem um significado nos presépios de nossos lares. A primeira é o aniversariante, causa da festa. É um menino e, como toda criança, tem o dever de zerar o mau humor e restaurar a esperança. Sim, você, adulto como eu, tem o direito ao azedume e ao descrédito. Nossa biografia e nossos erros possibilitam a consciência de que não valemos a pena mesmo. Crianças surgem como tábula rasa, um novo caderno aguardando a escrita. O menino da manjedoura, como toda criança, proclama que o mundo recomeça com ele. 
            A segunda personagem é Maria, mãe e mulher. Jovem adolescente ainda, vive o incômodo de uma gestação, pouco dinheiro, acomodação improvisada e ter de cumprir uma ordem governamental sobre um recenseamento. Para teólogos, crendo ela gerou quem a criou. Para outros, é o mais próximo que teremos de amor incondicional: a mãe que aposta em carregar um ser por nove meses e faz o milagre do nascimento. A esperança é o menino e o amor extraordinário é a mulher-mãe. Todos fomos bebês; algumas foram mães, qualquer um pode voltar a ter esperança. 
            A terceira personagem é José, o carpinteiro. Sente-se protetor de um mistério que o transcende e o excede. Aceita a gravidez sem causa como aceitará o exílio com a pequena e sagrada família. Traz o trabalho, a proteção, a missão de apoio e a vocação de entrega. É homem capaz de ouvir a intuição de sonhos. Aceita ser testemunha e controlar a vaidade. Como cantava Georges Moustaki, foi você, José, quem escolheu Maria e seu filho de tão estranhas ideias. 
            A quarta personagem é, na realidade, um grupo de gente simples: pastores. Interrompem o trabalho e fazem uma pausa teológica. São os primeiros a saber do primeiro Natal. São pobres e testemunhas. Receberam uma mensagem da quinta personagem: o grupo de anjos que proclama glória a Deus nas alturas e paz na Terra para os homens de boa vontade. A Bíblia desconfia um pouco de agricultores e exalta pastores, desde Caim e Abel. No topo dos seres criados e na base da pirâmide social há alegria pelo ocorrido. Do mais alto ao mais baixo o mistério do Deus-menino exalta a noite fria e significativa. A manjedoura celebra a vida e integra seres humanos e mensageiros divinos.
            A sexta personagem simboliza a humanidade. São sábios, magos, posteriormente tornados três reis. Na tradição medieval, um é branco, outro, negro e o terceiro parece mais oriental. Grão Vasco, no começo do século 16, pôs um índio no lugar desse último. Traduzem a boa-nova para todos, a novidade de um Salvador. Carregam três presentes simbólicos para o menino e para nós: ouro porque ele e nós podemos ser reis; mirra porque todos morreremos e este é o produto para acompanhar o defunto. Por fim, trazem incenso porque o menino é Deus. Baltazar, Melquior e Gaspar são nossos procuradores. A epifania é humana e divina. 
            A sétima personagem é outro grupo. Nada falam, apenas aquecem o infante. São vacas e burros próximos ao berço improvisado. Também há ovelhas trazidas pelo grupo da quarta personagem. Depois despontam camelos, dromedários, associados à viagem dos sábios reis. São convidados úteis e silenciosos. Integram a natureza e os animais à noite que Jesus escolheu. Foram criados antes dos homens e existem há mais tempo. Toda vida celebra a Vida. 
            A oitava personagem é má. Representa o poder ressentido, o medo corrupto e invejoso. Trata-se de Herodes que não se aproxima da cena, mas ronda o presépio. O puro amor de Jesus, Maria e José, a simplicidade dos pastores, a humildade angelical, a busca de sabedoria dos magos e a ação generosa dos animais devem encontrar o plano político e a violência. Como hoje e há 2017 anos, o Estado corrupto mata crianças e só se preocupa consigo. Os primeiros a morrerem por Jesus serão os santos inocentes assassinados pelo medo do tirano.
            A nona personagem é das mais interessantes. Quando você olha um quadro como a Adoração dos Magos, de Leonardo da Vinci ou quando visita o extraordinário presépio napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo, ela está lá, a personagem não retratada: nós. Somos a testemunha invisível da cena descrita em Lucas. Somos a plateia-alvo da cena e da missão do menino. Somos a nona personagem que pode aprender com José, com Maria ou até com Herodes. Podemos ter a humildade do menino sobre a palha ou a maldade dos soldados executando inocentes. Somos parte do drama e temos escolha sempre.
            Hoje terei o primeiro Natal sem minha mãe. Foi ela que me ensinou o amor à festa. Passo adiante o que recebi com tanta generosidade. Boas festas para todos os filhos e para todas as mães e que, ao menos nesta noite feliz, haja paz na Terra. Como eu disse no ano passado, ninguém é obrigado a ser feliz hoje. Igualmente, ninguém é obrigado a ficar deprimido. Que as crianças nos eduquem e nos permitam ter esperança. Feliz Natal!
Leandro Karnal - Caderno 2 - P. C7 - O Estado de São Paulo - domingo, 24 de dezembro de 2017.

domingo, 26 de novembro de 2017

OS DESAFIOS E A IMPORTÂNCIA DA EJA

            Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2007, uma população de cerca de 10,9 milhões de pessoas com 15 anos ou mais havia frequentado algum curso de EJA.
            Dados de FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – relativos ao Censo Escolar de 2011 revelaram que aproximadamente 3,4 milhões de pessoas frequentavam a EJA.
            Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios (Pnad/IBGE 2009), no Brasil, há uma população de 57,7 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam a escola e não completaram os estudos do Ensino Fundamental.
            Um dos grandes desafios da EJA tem sido o de manter o aluno na escola, pois os dados do IBGE também revelam que, de cerca de 8 milhões de pessoas que passaram pela EJA antes de 2007, 42,7% não concluíram o curso, sendo que o principal motivo apontado para o abandono foi a incompatibilidade de horário das aulas com o do trabalho ou com o de procurar trabalho (27,9%), seguido pela falta de interesse em fazer o curso (15,6%).
            Às vezes, a falta de um corpo docente habilitado para um desempenho adequado a essa modalidade de ensino é outro grande problema enfrentado pela EJA. As especificidades dessa modalidade de ensino não são tratadas nos cursos de qualificação de professores, de modo que o professorado dispõe de reduzidas oportunidades de aperfeiçoamento e atualização nos fundamentos teóricos-metodológicos da EJA. Além disso, existe um elevado contingente de docentes sem formação específica, professores leigos, que atuam tanto nas redes públicas de ensino, como em estruturas em que acontece a Educação de Jovens e adultos – EJA.
            Esses desafios precisam ser encarados por todos os envolvidos com a educação, pois conforme destacou a Declaração de Hamburgo aprovada na V Conferência Internacional sobre Educação de Jovens e adultos (CONFINTEA V), no item 4:
                                    É de fundamental importância a contribuição da educação de adultos e da                                                                           educação continuada para a criação de uma sociedade tolerante e instruída,                                                                         para o desenvolvimento socioeconômico, para a    erradicação do analfabetismo,                                                                para a diminuição da  pobreza e para a  preservação do   meio ambiente.
            Assim, a Educação de Jovens e Adultos desempenha um papel essencial e específico, à medida que possibilita às mulheres e aos homens, jovens e adultos, adaptarem-se de modo eficaz a um mundo em constante mutação, oferecendo um ensino que leva em conta seus direitos e suas responsabilidades, bem como os direitos e as responsabilidades da comunidade.

Fonte: Guia de orientações didáticas – Coleção: Caminhar e Transformar – Língua Portuguesa – pp. 6 e 7. – Ed. FTD – Priscila Ramos de Azevedo Ferreira.

sábado, 18 de novembro de 2017

 O PAPEL DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA

    O ideal amplamente defendido para o século XXI é o de um desenvolvimento justo e sustentável. A concretização desse ideal, no entanto, só poderá acontecer com o desenvolvimento centrado no ser humano e com a existência de uma sociedade participativa, baseada no respeito integral aos direitos humanos.
    Tendo em vista esse propósito, na Declaração de Hamburgo aprovada na V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (CONFINTEA), realizada em julho de 1997, na Alemanha, considerou-se, no item 2, que:

                                               A educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a                                                                    chave para o século XXI: é tanto consequência do exercício da cidadania como                                                                     condição para uma plena participação na sociedade.

    Desse modo, a Educação de Jovens e Adultos – EJA – deve englobar o processo de aprendizagem, formal ou informal, a fim de que os alunos tenham oportunidade de completar seus estudos, de maneira a desenvolver suas habilidades, enriquecendo e ampliando seus conhecimentos. Isso implica um trabalho pedagógico pensado de modo a promover reflexões acerca do desenvolvimento ecologicamente sustentável, a respeito dos direitos humanos, justiça e democracia, qualificação profissional e o mundo do trabalho, etnia, tolerância e paz mundial, compreensão e o respeito pelo diferente e pela diversidade.
    [...] Tal expectativa pode ser consolidada por movimentos em que se busca desenvolver nos estudantes a consciência sobre questões ambientais, humanas e sociais no pressuposto de que é possível se criar um cenário em sala de aula no qual o indivíduo possa colocar-se no lugar dos outros e estabelecer para si conceitos básicos que norteiam seus atos.
Fonte: Guia de orientações didáticas – Coleção: Caminhar e Transformar – Língua Portuguesa – p. 6 - Ed. FTD – Priscila Ramos de Azevedo Ferreira.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Base Nacional Comum antecipa Alfabetização para o 2º Ano

 

Na manhã de 06 de abril de 2017, o MEC, com atraso e sem tratar do Ensino Médio, apresentou a terceira e última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é formada por quatro áreas do conhecimento: Matemática, Ciências da Natureza, Linguagens e Ciências Humanas. Esse documento estava previsto para junho de 2016.

Segundo informa Letícia Carvalho, G1, a BNCC é considerada fundamental para reduzir desigualdades na educação no Brasil e que diferentemente daqui, em países desenvolvidos eles já organizam o ensino por meio de bases nacionais. Nesse documento estão definidas as linhas gerais do que os alunos das 190 mil escolas do país devem aprender a cada ano.

Informa também que a base ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e depois homologada pelo ministro da Educação. Mesmo após essas etapas, ela só terá efeito na sala de aula quando estados e municípios reelaborarem os seus currículos: serão eles que detalharão como será abordada cada uma das metas ou eixos da BNCC em sala de aula. O que deverá ocorrer somente a partir de 2019.

A jornalista de O Globo lista os principais pontos da BNCC do Ensino Infantil e Fundamental.

1. O Ensino Religioso foi excluído da terceira versão; MEC alega respeitar lei que determina que tema seja optativo e que é competência dos sistemas de ensino estadual e municipal definir regulamentação.

2. O conteúdo de história passa a ser organizado segundo a cronologia dos fatos e não mais como queriam alguns especialistas na primeira versão em que excluía a história antiga europeia, como Grécia e Roma.

3. A língua inglesa será o idioma a ser ensinado obrigatoriamente; versão anterior da BNCC deixava escolha da língua a cargo das redes de ensino.

4. O conceito de gênero não é trabalhado no conteúdo; MEC diz que texto defende "respeito à pluralidade".

5. Texto aponta 10 competências que os alunos devem desenvolver ao longo desta fase da educação. Uma delas é "utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética".

            6. Toda criança deve estar plenamente alfabetizada até o fim do segundo ano; na versão anterior, o prazo era até o terceiro ano.

7. A Educação Infantil ganha parâmetros de quais são os "direitos de aprendizagem e desenvolvimento" para bebês e crianças com menos de seis anos.

8. O Conteúdo do Ensino Médio não é alvo desse documento; ele será abordado em texto específico aguardado para o segundo semestre de 2017.

Segundo Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do MEC, pela primeira vez, o Brasil terá uma base que define o conjunto de aprendizagens essenciais a que todos os estudantes têm direito na Educação Básica. Até então só existiam documentos como as Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais e normas federais que garantiam a padronização na elaboração dos currículos.

Agora, a BNCC será a referência nacional obrigatória para que todas as escolas desenvolvam seus projetos pedagógicos. Cerca de 60% do conteúdo abordado em sala de aula deverá seguir essa base curricular do MEC. O restante será determinado pelas redes educacionais e pelas próprias escolas, respeitando a realidade local.

Professor João Pereira Leite

Postado em 06/04/2017.