quarta-feira, 28 de março de 2012

IBIÚNA: história, memórias e causos

IBIÚNA: História, Memórias e Causos


Como esta cidade está diferente. Já não é mais a mesma. Falar de Ibiúna para quem já viveu mais de meio século de vida acompanhando sua trajetória político-administrativa e social não é difícil, mas também não é tão fácil assim. Mas vamos lá.                  Segundo o historiador José Gomes (Linense) em seu livro “Y Una Noiva Azul – História do Município de Ibiúna”, a etimologia do nome Ibiúna é indígena. Una é um vocábulo tupi-guarani que significa “negro”, “escuro”, “preto” e Ybi significa “terra”. Assim sendo, Ibiúna na linguagem tupi-guarani significa “terra-preta”. O rio que banha a cidade, o “rio Una” é que lhe deu o nome primitivo de Una. Os mais antigos, ao pronunciarem o nome anterior do município, usam a expressão Yuna e apenas uma parte da população usava a pronúncia Una. Como existiam dois municípios com a denominação Una, sendo um no Estado de São Paulo e outro no Estado da Bahia, um teria que ter a sua denominação mudada ou alterada. Entretanto o município baiano por ser mais antigo e considerado, na época, de maior valor histórico, herdou em definitivo a denominação de Una. Mas pelo decreto-lei estadual número 14.334 de 30 de novembro de 1944, o município paulista de Una passou a denominar-se Ibiúna.
         O município foi colonizado por portugueses, espanhóis, italianos, japoneses e árabes. Surgiu a partir de uma fazenda que tinha como ponto central uma capela onde hoje se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores.
Para os mais velhos, antes é que era bom de viver neste lugar. Como era gostoso, aos domingos, após a missa ouvir a banda tocar no coreto que ficava na praça da matriz.
Aquela sim que era praça de uma cidade do interior. Os papos rolavam até altas horas e quase todos se conheciam. Às vezes uns perguntavam – “mas você é gente de quem”? Lá estavam os compadres falando de futebol, as comadres conversavam de tudo um pouco. Falavam das lavadeiras da rua da bica. As crianças podiam brincar de forma tranquila, pois não havia degraus e elas corriam de um lado para outro. Carros, quase nenhum. Às vezes um ou outro descia a Rua XV de Novembro. É isso mesmo, os carros desciam por essa rua que hoje, só sobe. Se um desses carros tivesse o pneu furado, era só procurar o “seu Zorinho”, único borracheiro de Ibiúna. Ele estava sempre pronto, não importava o horário.
         O senhor Ozório do Amaral, que Deus o tenha, foi uma das figuras mais brilhantes da nossa terra! Quem não se lembra do seu lado artístico, na figura do palhaço “Periquito” que com suas bonecas animava as quermesses e festas juninas. Com certeza, lá no céu ele continua animando seus amigos que já partiram com ele. E porque não, retomando a dupla com outra figura marcante a “Chica”, nome artístico da brilhante cantora Maria Aparecida Abibi, com quem fazia dupla no antigo cinema que ficava na esquina da praça da matriz, onde hoje funciona uma farmácia. Pois é, naquele tempo Ibiúna tinha um cinema com projeção manual (em rolo) dos filmes e hoje, em pleno século XXI, com toda tecnologia de ponta, quem quiser ver um filme, precisa ir para as cidades vizinhas.
         Por que será que os políticos gostam de mexer na praça? Quase todos querem deixar sua marca, mas ela fica cada vez pior. Com tanta coisa mais importante para fazer mexem sempre onde não devem.
Agora, convenhamos, para nós quarentões, cinquentões e outros “ões” aquela pracinha que tinha uma fonte com sapinhos lançando água pela boca é a que ficou marcada. Como era bom. Embora não houvesse mais o coreto e nem o cinema, havia o “passeio trocado” em volta do chafariz. Não sei de quem foi a ideia, mas era muito divertido. Nesse passeio, os homens caminhavam de um lado e as mulheres caminhavam do outro. Ali rolavam as paqueras, pois para completar uma volta inteira na praça as pessoas se encontravam com tantas outras. Os mais velhos ficavam sentados nos bancos, enquanto os mais jovens curtiam a noite trocando flertes. Muitos casamentos começaram nessas trocas de olhares do “passeio trocado”.
         Bem ao lado praça, ficava o Soci, o único clube da cidade. Pois é, era o único, mas pelo menos havia um clube no centro da cidade. Lá, embora fosse um lugar frequentado exclusivamente pela elite ibiunense, ficou marcado pelos grandes bailes de época e de carnaval. Nos áureos tempos em que a elite se reunia para falar de política, de futebol e das festas religiosas que acontecem até hoje. Nos dias de hoje, uma vez por ano a elite se reúne para o baile de aniversário da cidade, mas infelizmente o objetivo é de apenas promover os feitos da administração que está no poder e não de se divertir.
         Para a camada mais popular da população havia o Marajó, um salão de “discoteca” que reunia muita gente também. E eram esses dois ambientes que esquentavam o carnaval de salão de Ibiúna, além de organizar grandes blocos que desfilavam pela Rua XV de Novembro, no domingo e na terça-feira de carnaval, atraindo centenas de pessoas. Hoje o carnaval pode até ser bom, mas nunca vai ser como antes.
         No futebol, a grande rivalidade ficava por conta dos times do Guarani e do Treze de Maio. Os campos ficavam lado a lado. O do Guarani permanece até hoje. O do Treze de Maio virou comércio. Este último ficava próximo ao atual Terminal Rodoviário. Hoje não há mais rivalidade no futebol ibiunense. Na década de 1990, dois times quase chegaram a reviver essa rivalidade, o do Machado e do Jardim Áurea, mas não fizeram nem sombra. Não havia mais os dois principais nomes que comandavam o futebol de Ibiúna: o senhor José Mendes e o senhor Marrero.
         E as “figurinhas carimbadas”! Quem não se lembra do padeiro “Paraíba” com seu pão quentinho, fazendo entrega na porta das residências. Quem precisasse de um botijão de gás era só chamar o “Chulepe”. E o seu “João-de-Casa”, com sua tolerância zero. Havia também aquele senhor da célebre frase: “cala a boca e fique quieto”, o seu João do Paiol. Há aqueles nomes mais famosos como Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, José Serra, ex-governador de São Paulo e senador, entre tantos outros que escolheram nosso município para construírem suas chácaras e se refugiarem da vida agitada da grande São Paulo.
         Quanto ao progresso deste município, se é que houve, vale destacar que o prefeito Orlando da Silva foi quem teve a iniciativa de implantar a rede de esgoto na cidade, fazendo com que as residências deixassem de utilizar fossas. Isso ocorreu no início da década de 1980. Foi nesse período também que veio para Ibiúna a fábrica de macarrão da Nissin Miojo. Mais tarde com o prefeito Zezito Falci, é que veio o asfalto para as ruas da cidade e a iluminação pública nas ruas centrais. É isso mesmo! Até então, somente havia pavimentação nas duas ruas centrais. Quando chovia, era só carro encalhado dentro da cidade. Mas a zona rural, mesmo sem asfalto nessa época, ainda era bem mais cuidada do que hoje. Não havia esse terminal rodoviário que temos hoje que parece a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, a reforma nunca é concluída. Os ônibus partiam de um mini-terminal que ficava na praça da matriz. Hospital no município, nem pensar. Se houvesse uma emergência, o atendimento era feito somente durante o dia no Centro de Saúde. Já os demais prefeitos prefeitos que administraram o município nada construíram e nem mesmo completaram suas reformas, mas afirmam que contribuíram com o progresso que temos hoje.
         Este é um relato não de um historiador, mas de um simples cidadão ibiunense que ama sua terra e deseja um futuro melhor para todos.

                                                                                                         Por João Pereira Leite