Escola
melhor, pós-covid
Estamos
no meio do furacão, ainda com escolas fechadas e com a incerteza do que pode
acontecer quando reabrirem, mas mesmo assim educadores dizem que é possível já
pensar em alguns bons aprendizados que a pandemia deve deixar para a educação.
Eles visualizam uma escola melhor pós-covid no Brasil, partindo do princípio de
que podemos reconstruir um mundo melhor depois das crises. Pode ser difícil,
mas convém acreditar.
Um
dos mais óbvios legados do coronavírus é a tecnologia. Professores costumavam
ter medo dela. E medo, principalmente, de que ela os substituísse. Mas, ao
contrário, a pandemia tem mostrado o grande valor de um professor e como é
difícil ensinar. Mas também que o computador, o celular e a internet podem ser
aliados e ajudar na aprendizagem e no aumento do interesse dos alunos.
Mais
importante que a tecnologia, no entanto, é a mudança que tem acontecido na
relação entre famílias e escolas. Em nota técnica sobre o assunto, o Todos pela
Educação chama o movimento de “aproximação forçada”, mas que pode “dar início a
uma cultura de diálogo e parceria contínua”.
Pesquisas
no mundo todo já mostraram melhora na aprendizagem das crianças quando os pais
se interessam pelos seus estudos, perguntam sobre as lições, frequentam a
escola. Professores também constantemente reclamam da distância dos pais, que
passaram a delegar toda a educação à escola.
Com
a pandemia, mesmo as famílias mais desinteressadas ou mais ocupadas estão tendo
de compartilhar o momento de ensino remoto em casa. Mães ouvem vez ou outra a
aula dada pela professora pelo Zoom, ajudam em atividades mais complicadas,
pais folheiam os materiais usados pelos filhos. Veem – ou se lembram – como é
complicado ensinar e aprender.
Mas
essa relação nova surgiu no susto. Cabe agora às escolas continuarem a
estimular os responsáveis a frequentar os compromissos escolares e,
principalmente, a manter alto interesse e participação na vida escolar dos
estudantes, diz o Todos pela Educação.
Muito
se fala também na valorização das chamadas habilidades socioemocionais. Elas
fazem parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é a diretriz sobre o
que deve ser aprendido nas escolas, mas raramente consegue competir com o
conteúdo de Português ou Matemática. Não há tempo ou mesmo técnica para ensinar
os estudantes a terem empatia, foco, resiliência, tolerância ao estresse. Mas,
depois de meses enfrentando uma pandemia, com desemprego dos pais e adoecimento
de pessoas queridas, adolescentes e crianças voltarão com necessidades além das
matérias perdidas.
O
Instituto Ayrton Senna, que estuda as habilidades socioemocionais, divulgou um
guia orientando os professores sobre o assunto no retorno às aulas presenciais.
Diz o documento que para o restabelecimento da sensação de segurança é
importante, por exemplo, que seja aberto espaço para discussão sobre a
veracidade de informações sobre a pandemia. “Se esses assuntos forem evitados,
pode-se acabar gerando um crescimento da sensação de insegurança.”
O
acolhimento dos alunos deverá ser feito também de maneira interdisciplinar.
Psicólogos e assistentes sociais precisam trabalhar com professores na volta às
escolas – e aí está mais uma experiência que deveria ser continuada após a
pandemia. Hoje é raro encontrar uma escola com psicólogos, apesar de lei que
exige o profissional nas redes públicas.
Para
algo realmente mudar para melhor depois da grande desgraça que o País tem
vivido, escolas particulares públicas não podem pensar apenas em medidas
emergenciais. Há lições que o coronavírus traz em todas as áreas, e a educação
– logo ela – não pode deixar de aprendê-las.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19 Julho de 2020 – Metrópole – A17.
Colunista: RENATA CARFADO – É REPÓRTER
ESPECIAL DO ESTADO E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO
(JEDUCA) - ESCREVE QUINZENALMENTE
Acesso em 19/07/2020 – 14h15min.